Sono e Envelhecimento
O envelhecimento da população mundial e a maior ocorrência de distúrbios de sono com o aumento da idade fazem com que este campo tenha uma crescente importância da Medicina do Sono.
Alterações do Sono com o envelhecimento
A melhor forma de avaliar o sono em idosos é a polissonografia. Existem controvérsias sobre quais alterações do sono do idoso são normais e quais são devidas às doenças que aparecem na idade avançada. Quando se estuda uma população de idosos, que não apresenta queixas de sono nem doenças neurológicas ou psiquiátricas, observam-se alterações no sono que podem atribuir-se ao envelhecimento normal. Isto quer dizer que, muitas queixas comuns nos idosos referentes ao sono, são normais para a idade, como os exemplos a seguir:
1) Redistribuição do sono: maior tendência a cochilos e sonecas durante o dia com diminuição do sono noturno.
2) Ocorrência de despertares durante o sono noturno, permanecendo um certo tempo acordados na cama. Aquela “queixa” de que acorda várias vezes durante a noite.
3) Demora para pegar no sono, leva mais tempo para dormir do que quando jovens.
4) Os idosos tendem a despertar mais cedo, permanecendo longas horas na cama de madrugada, bem cedinho.
5) Aumento do estágio superficial do sono, e por este motivo tem facilidade para despertar com qualquer barulho.
6) Diminuição do sono profundo.
7) Maior freqüência de movimentos das pernas enquanto dormem (na Medicina conhecidos como “movimentos periódicos de pernas”).
Insônia do Idoso
A prevalência de insônia no idoso varia de 19% a 38% em estudos recentes. No idoso a insônia com mais freqüência que no jovem é secundária a doenças neurológicas (Alzheimer, Parkinson, síndrome das pernas inquietas) e cardio-respiratórias sendo por essa razão mais graves e com dependência de cuidados. Distúrbios próprios do envelhecimento como a noctúria (despertar à noite para urinar) e a menopausa, também alteram o sono.
No homem a noctúria está relacionada à hipertrofia prostática e na mulher à resistência uretral pós-menopausa (a terapia de reposição hormonal ocasiona melhora deste quadro).
A insônia psicofisiológica ou primária também é mais freqüente no idoso provavelmente devido a fatores psicológicos devidos ao isolamento social, empobrecimento material, pouca exposição à luz solar, e ansiedade decorrente do medo à morte e outras doenças.
Frequentemente a insônia no idoso é tratada sem uma avaliação criteriosa de suas causas, sendo muito perigoso a automedicação.
Ronco e Apneia do sono no idoso A síndrome da apneia obstrutiva do sono é uma condição onde o indivíduo apresenta paradas respiratórias ou redução da frequência respiratória durante o sono, ocasionando dificuldade de oxigenação, vários despertares durante o a noite e sonolência durante o dia. Ocorrem cada vez mais casos de síndrome da apneia obstrutiva do sono com o aumento idade.
Cita-se que 42% dos indivíduos de ambos os sexos com idade maior que 65 anos apresentam mais de cinco paradas respiratórias por hora durante o sono, por causa do fechamento momentâneo das vias respiratórias.
Existem fatores dependentes da idade que poderiam explicar o aumento do número de casos de síndrome de apnéia-hipopnéia do sono no idoso. Entre estes fatores o mais conhecido e é uma maior tendência do colapso das vias aéreas superiores, por um enfra-quecimento da musculatura da faringe. Isto explica o próprio ronco, e a partir de certo grau, a apnéia. A diminuição da função da tireóide, o aumento de peso e a diminuição do controle da respiração também favorecem este problema no idoso.
Movimento periódico das pernas e Síndrome das pernas inquietas
A freqüência de movimentos periódicos de membros aumenta progres-sivamente com a idade. O número de casos de síndrome das pernas inquietas também aumenta. Ambas as condições estão relacionadas a várias alterações no cérebro e nos nervos que ocorrem durante o envelhecimento inclusive a diminuição dos níveis de uma substância chamada dopamina.
Doença de Alzheimer
Demência é uma condição na qual um indivíduo previamente normal vai perdendo a capacidade de memorização e raciocínio. A doença de Alzheimer é a causa mais freqüente e universal de demência acometendo cerca de 20% da população com mais 70 anos. Acredita-se que alguns distúrbios do sono sejam específicos da doença de Alzheimer.
Algumas das disfunções podem ser atribuídas à crescente desorganização no ciclo de temperatura corpórea e no ciclo vigília-sono, possivelmente associada à atrofia da parte do cérebro que os controla. Foi observado que a ausência de ritmo na secreção de um hormônio chamado melatonina.
A correção de fatores como falta de exposição à luz matinal, pouca atividade física, sono diurno, alterações na temperatura corpórea e pouca interação social pode ajudar a melhorar estas alterações de ritmo no idoso, favorecendo uma melhora na qualidade do sono.
A polissonografia pode diferenciar claramente o paciente com Alzheimer de outras condições de prejuízo da memória, sendo considerada hoje um exame de grande auxílio na avaliação do idoso.